Prof. Dr. Bruno Geloneze, pesquisador do OCRC é co-autor de um artigo publicado na Nature Metabolism falando sobre as consequências de COVID-19 em pacientes com doenças metabólicas

Data: 01/03/2021

O artigo redigido por grupo de especialistas representando todos os continentes alerta para a catastrófica situação da qualidade de cuidados aos pacientes com doenças metabólicas, em especial, diabetes e obesidade. Os pontos específicos abordados pelo artigo são:

  • Tratamento dos pacientes com COVID-19 e doenças metabólicas – A dexametasona vem sendo o tratamento padrão juntamente com suplementação de oxigênio para os pacientes hospitalizados reduzindo a mortalidade em pacientes em estado crítico. Problemas: altas doses usadas nas infecções graves piora muito o controle glicêmico e desencadeia o coma diabético pela acidose metabólica e o coma hiperosmolar. Os médicos retardam o uso intensivo de insulina endovenosa e na falta de monitorização contínua pode alternar situações críticas de hiper e/ou hipoglicemia. A dexametasona pode causar edema grave e aumento da pressão arterial. No plano celular pode induzir a apoptose (morte) das células produtoras de insulina e resultar na necessidade permanente de insulina em pessoas que só usavam medicamentos orais.
  • Acesso aos cuidados de saúde – Segundo a OMS, 155 países reduziram ou interromperam os programas de assistência aos pacientes com doenças metabólicas crônicas, sendo que 47 países a assistência ao diabetes foi severamente reduzida. Além disso, pacientes tem medo de contrair a doença e evitam consultas e vem trocando medicações anti-diabetes e anti-hipertensivas que foram equivocadamente relacionadas a maiores risco de gravidade da doença pelo Covid. O pior cenário deverá ser observado no futuro quando mais complicações crônicas do diabetes, tais como retinopatia e nefropatia, além de doenças cardiovasculares serão mais incidentes.
  • Cuidados agudos a pacientes com ‘pé diabético” – as feridas agudas no pé diabético são mais frequentes neste cenário de mal controle e requerem muitas vezes de internação para uso de antibióticos, cuidados cirúrgicos, imobilização e cuidados crônicos para reabilitação das feridas. No quadro atual, os cuidados vêm sendo postergados ou não aplicados e o risco de amputação aumentou em 300% em países ocidentais desenvolvidos.
  • Cuidados com os pacientes com obesidade – O isolamento e as consequentes alterações psicológicas têm facilitado o aumento de peso em pessoas propensas a ganhar peso pela inatividade física e pelo estresse e depressão. Além disso, pacientes com indicação do tratamento cirúrgico da obesidade tem enfrentado o fechamento parcial ou total dos serviços de cirurgia bariátrica em todo o mundo. Sabe-se que as filas aumentam e a mortalidade desses pacientes deverá aumentar nesse hiato de tempo.
  • Vacinação – pacientes com diabetes e doenças metabólicas devem ser incluídos nas fases iniciais da vacinação na condição de grupos prioritários. No entanto, os programas de vacinação prioritária desses pacientes quanto à influenza e pneumonia já tem falhado em todo o mundo. Mudar o cenário é mais um grande desafio.

Consequences of the COVID-19 pandemic for patients with metabolic diseases

Bornstein SR, Geloneze B et al. Nature Metabolism 2021doi: 10.1038/s42255-021-00358-y