Webinário sobre a obesidade encerra o mês do Maio Amarelo
Webinário sobre a obesidade encerra o mês do Maio Amarelo
A obesidade — um dos temas mais importantes para a nossa saúde — encerrou a série de webinários do Maio Amarelo, no Canal Doutor Li.
Everardo Magalhães Carneiro que é pesquisador principal do Cepid OCRD (Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidade da Unicamp) financiado pela FAPESP, trouxe informações embasadas na ciência que remetem à obesidade.
A palavra OBESIDADE deriva do latim “OBESITAS, ATIS” e tem por significado “a condição da pessoa obesa ou o aumento patológico do peso”.
[Medicina] Patologia caracterizada pela acumulação de gordura no organismo, especialmente no tecido subcutâneo e ao redor de certos órgãos internos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é descrita como uma gordura anormal ou excesso de acumulação, sendo considerada uma doença crônica não transmissível que atinge proporções endêmicas em todo mundo.
O professor titular do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional — Instituto de Biologia da Unicamp destaca outra definição mais biológica, “a obesidade é um distúrbio neuroendócrino onde condições ambientais atuam junto com a genética”.
“Vamos nos aprofundar um pouco mais, pois é preciso tirar essa culpa que se coloca no gordo, considerando-o culpado porque come muito. Então, estou dizendo que a obesidade se torna algo mais complexo, pois consiste em um distúrbio, uma alteração do sistema nervoso e do sistema endócrino, sendo entidades importantes de nosso organismo que controlam nosso metabolismo. O nosso metabolismo é um conjunto de reações que executa a manutenção diária de nosso corpo. O sistema endócrino é um conjunto de glândulas do nosso organismo que produz algumas substâncias que vão fazer as células funcionarem de maneira mais ou menos eficientes. Então, falar em obesidade é quebrar essa relação neural com o sistema endócrino, e isso faz com que os nutrientes que comemos se acumulem de maneira não controlada, não eficiente, não sustentável, sendo que, o organismo acumula de alguma forma e, portanto, em forma de gordura trazendo transtornos grandes para nosso organismo”.
Em sua explanação, Carneiro explica que este conceito supracitado é clássico e dá para entender tanto o conceito etimológico em latim, como o da OMS, esclarecendo que esta definição é mais fisiopatológica, em se tratando de conceitos que caracterizam a obesidade.
Doutor Li sugere que Everardo complemente as características da obesidade, visto ser supostamente esse mecanismo que funciona de forma regulada ou não, causando a obesidade como também a desnutrição.
Como funciona esse eixo cérebro e endócrino?
“Dois atos são importantes — a vontade de comer e a perda de vontade de comer — esse processo é regulado no cérebro, na região do hipotálamo, visto ali existir um conjunto de núcleos de células que são responsáveis pelos dois atos. Esses núcleos são modulados por hormônios liberados na nossa corrente sanguínea. Assim, quando chega o horário do almoço, alguns hormônios vão sinalizar no hipotálamo, que aciona a vontade de comer e isso faz com que o organismo se prepare para ir em busca do alimento. Da mesma forma ao começar a encher o estômago, ele se distende e também libera hormônios na região, sendo que vão sinalizar no hipotálamo que já se comeu o suficiente para o momento ou dia,” responde o especialista Everardo.
“Só que tanto no cérebro quanto nas glândulas pode ocorrer por aspectos genéticos e/ou outros, uma quebra dessa produção dos hormônios e, consequentemente, não fazer a sinalização correta para o hipotálamo, tanto para o ato de iniciar a comer quanto parar de comer. O exemplo de uma pessoa com bulimia, provavelmente, o que pode estar acontecendo é que predominam esses hormônios (substâncias) para fazer a pessoa perder a fome. Quando estamos falando de obesidade existem esses hormônios no cérebro sinalizando para que a pessoa não pare de comer, sendo mais grave pois a medida que começamos a engordar (mais tecido adiposo, gorduroso) nosso organismo produz outros dez tipos de hormônios. Portanto, o tecido adiposo também produz hormônio visto ser um tecido endócrino. Um desses hormônios é a (leptina), produzido junto com a (insulina), visto serem os dois principais hormônios que vão sinalizar (reconhecer e regular) no hipotálamo, quando a pessoa tem que parar de comer. Mas também por conta de alguns aspectos, o hipotálamo pode não reconhecer a insulina e a leptina, fazendo com que esses indivíduos não parem de comer. Se deixar vão comer o dia inteiro, aumentando a obesidade”, complementa Carneiro.
O que faz uma pessoa manter seu peso nas diferentes fases da vida?
São três aspectos básicos: 1. A relação com a ingesta (o que você come); 2. Quanto você come; 3. A atividade física mantida regularmente (o seu gasto energético). É necessário controlar e considerar o balanço de quanto um indivíduo come e quanto ele gasta (atividades diárias de gasto energético), segundo Everardo.
A obesidade é uma das doenças com maior prevalência no planeta. Ficamos mais obesos durante o período da pandemia?
Sim, ficamos mais obesos e com o aumento de peso, independente da pandemia, teremos uma multidão de obesos em poucos anos. Eis uma previsão que é preocupante, pois diz respeito até 2025, a prevalência de obesos será de 2,25 milhões de indivíduos no mundo. Para calcular o peso e o nível de massa existe o Índice de Massa Corporal (IMC) que serve de parâmetro utilizado para saber se o peso está de acordo com a altura do indivíduo, a partir do resultado do IMC é possível saber também se a pessoa está dentro do peso ideal e também identificar se trata de um caso de obesidade ou desnutrição.
Para tanto, o IMC é a relação entre peso e altura, sendo que, o cálculo é feito de acordo com a fórmula: IMC = peso/ (altura x altura), devendo o peso estar em kg e a altura em metro, e o resultado é dado em kg/m².
Obesidade na infância e adolescência: qual o primeiro passo para ajudar uma criança obesa ou com sobrepeso? Quais são as preocupações com a obesidade infantil?
“Isso é crítico. Os dados mostram que as crianças podem chegar a 72 milhões de pessoas obesas até 2025. É isso é fácil de entender, pois as crianças, hoje (2021) pouco se movimentam e ficam muito tempo à frente de dispositivos tecnológicos e isso impacta nos aspectos que influenciam (no que se come + no comer mais + na atividade física baixa com gasto calórico baixo)”, alerta Everardo.
É preciso intensificar a atividade física dessas crianças (gasto energético). Não levá-la em supermercados e fast foods, visto que os apelos para o consumo desses produtos industrializados se tornam um apelo para a criança comê-los. A televisão mostram propagandas que motivam as crianças a consumirem alimentos. Além dos refrigerantes conterem o açúcar clássico (sacarose), também a frutose contida neles é preocupante, pois produzem a obesidade hepática que promove um processo inflamatório grave no fígado. Isso faz com que o fígado perca sua função principal que é tirar esses nutrientes em excesso no nosso organismo. “Os pais devem ser modelos de boa alimentação e não servirem de exemplo ao consumir ou beber esses produtos. É preciso reduzir o contato das crianças com esses nutrientes nocivos”, conclui didaticamente o professor do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional.